Sola gratia, sola fide, sola scriptura

A professora Monica recomendou assistir aos 4 episódios de”Os Caminhos de Lutero”. Tratam-se de vídeos produzidos pelo grupo “Loucos por Viagem”, apresentado por Rogério Enachev. A renda para produção dos vídeos aparentemente vêm da venda de pacotes turísticos. Ou, talvez, os vídeos relacionados especificamente a Lutero possam ter sido patrocinados pela IELB – Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Independentemente do viés comercial ou publicitário, a produção dos vídeos é de excelente qualidade, e o conteúdo foi muito bem trabalhado. Ao assistir ao quarto e último episódio, eu quase que me converti ao protestantismo… ok, essa parte já é exagero meu, mas eu realmente gostei da produção e recomendo a qualquer um, seja católico, protestante, espírita, budista ou candomblé a assistir aos vídeos.

Os vídeos retratam de forma singela o que significa a data de 31 de outubro, quando se comemora a publicação das 95 teses escritas por Lutero. Esta data não marca nem o início nem o fim da Reforma, mas representa todo um processo de desejo de reformar a Igreja Católica, que nasceu no sonho dos reformadores, e que tomou forma no coração de Lutero. Até então, 31 de outubro significava para mim apenas se disfarçar de abóbora e distribuir doces para crianças no dia das bruxas!

O vídeo começa com uma frase que me chamou a atenção. O apresentador comenta que um professor dele falou uma vez que “um texto fora de um contexto é um pretexto para várias interpretações”, e assim ele justifica a necessidade de compreender previamente o contexto histórico da época em que viveu Lutero.

Martin Luther nasceu em Eisleben – Alemanha, em 1483,  filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann.

No âmbito geográfico, a Alemanha ainda não existia. Haviam centenas de pequenos reinos, principados ducados e  condados dominados por vários impérios. Nessa época, o imperador só tomava posse depois de ser ungido pelo papa, e isso demonstrava no campo político a relação de poder entre o estado e a religião.

No âmbito religioso, somente a igreja poderia interpretar a bíblia, e as missas eram feitas em latim com o padre de costas para o público. A instituição Igreja Católica estava envolvida com três grandes preocupações:

  • as indulgencias
  • as santas relíquias
  • e a venda de cargos para os nobres

Nesse cenário, surgiram os pré-reformadores, pessoas que se opunham às atitudes da Igreja Católica, como John Wycliffe e Jan Huss, este que perdeu a sua vida lutando pelos seus ideais.

No âmbito social, o feudalismo dava sinais de enfraquecimento, especialmente pelo surgimento do Renascimento.

Por fim, no âmbito tecnológico, Johannes Gutenberg inventou a impressa, considerada uma das mais importantes invenções de todos os tempos.

Seguindo os desejos maternos, Lutero inscreveu-se na escola de direito da universidade de Erfurt. Mas tudo mudou após uma grande e forte tempestade, ocorrida em 1505: um raio caiu próximo de onde Lutero estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Sem abrigo, aterrorizado e temendo a morte, Lutero teria se ajoelhado e pedido ajuda a Sant’ ana, a mãe da Virgem Maria, e prometido que se tornaria um monge se fosse salvo. Não há registros histórico de que esse relato tenha realmente acontecido. Alguns dizem que Lutero usou esse argumento para convencer o pai que ele precisava abandonar o curso de direito e entrar no mosteiro, afinal a sua oração foi para Sant’ana, a padroeira dos mineradores, profissão do seu pai. Contrariando seu pai e amigos, Lutero não hesitou e entrou para a ordem dos Agostinianos de Frankfurt.

Lutero, durante sua vida, levantou-se veementemente contra diversos dogmas da Igreja Católica, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências. Essa discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Sua recusa em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X em 1520 e do imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521, resultou em sua excomunhão da Igreja Católica.

Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras, que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus (sola fide), único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos homens (sola gratia). Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus.

Entre todos os legados de Lutero, sem dúvida nenhuma o maior deles foi a tradução da bíblia para língua alemã, a língua do povo. A invenção de Gutenberg e a tradução da bíblia permitiram levar a palavra a todas as pessoas de seu tempo, e esse propósito permaneceu ainda nos dias de hoje na Igreja Católica.

Além disso, a história do Adventismo inicia comumente no  séc. XIX, porém suas raízes teológicas vem bem antes disto, e Lutero é reconhecido  como um homem de deus erguido para restaurar uma verdade que há muito tempo havia se perdido. Seu tríplice argumento sola gracia, sola fide e sola scriptura é o fundamento de toda a teologia adventista.

Eu estudei no período primário em um colégio Adventista, e só agora, quase 30 anos depois, me dou conta de que a minha educação religiosa foi baseada em um homem que foi muito além do seu tempo, e que ainda influencia os pensamentos teológicos nos dias de hoje.

Sola gratia, sola fide, sola scriptura

 

 

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