O objetivo deste project work é comentar sobre a arte de caligrafia japonesa Shodô, publicado no site da Fundação Japão. Primeiramente fiz uma análise do vídeo de um artista de Shodô explicando seus motivos de manter a arte herdada de seus familiares. Em seguida, fiz uma correlação do conteúdo do vídeo com o estudo de língua portuguesa que estou fazendo na faculdade.
Por fim, destaquei alguns pontos interessantes dessa arte, levantados a partir de outros textos do site Hirogaru e do livro que utilizamos no curso do Marugoto.
https://hirogaru-nihongo.jp/shodo/
O vídeo mostra os trabalhos de um artista e seu desejo de perpetuar a arte do Shodô.
O Shodô é uma arte tradicional japonesa. No caso do vídeo, o shodô é uma herança familiar do narrador. Este artista utiliza novos métodos de emoldurar, como o uso de acrílico. É uma arte moderna, mas tem uma herança, uma tradição por trás dela.
O artista tem consciência de que é uma cultura herdada, uma consciência viva e única, e tem a grande preocupação em transmitir esse conhecimento para as crianças. Ele espera que essas novas gerações possam transformar esse conhecimento, integrando novas técnicas e diferentes formas.
O artista comenta que o Rakugô e o Kabuki – artes tradicionais japonesas – têm a possibilidade de alcançar com maior facilidade o público graças à mídia. O Shodô tem menor alcance por ser uma caligrafia. Por esse motivo, o artista se esforça para ampliar (広がる)esse conhecimento.
Para mim, o Shodô é uma arte singular. O Shodô é a transmissão em um contíguo de forma e conteúdo, que culminam em arte pura.
Nas línguas codificadas com as letras romanas, a escrita apenas transmite conteúdo, e não forma. Logicamente que é possível transmitir forma, mas é preciso molda-la, como na poesia de Augusto de Campos abaixo:
O poeta talvez discuta a relação riqueza/miséria, mostrando que o luxo de uns é garantido pela pobreza de outros.
Essa relação semântica entre lixo e luxo é criada pela aproximação entre os significantes das duas palavras na construção da paronomásia na troca entre os fonemas /i/ e /u/.
No caso dos ideogramas, o conteúdo também transmite forma, ou seria a forma que contém conteúdo?
Por exemplo, o ideograma abaixo:
Significa “rio”. É fácil perceber que a forma do ideograma representa um curso de água.
Além da forma transmitir o próprio conteúdo do ideograma, o artista imprime na caligrafia a sua alma. A arte da caligrafia pode ser considerada uma metáfora para a própria vida, alternam-se pinceladas fortes com outras mais delicadas, variando o efeito conforme a velocidade, a cor da tinta, a pressão sobre o papel, o intervalo entre traços e o próprio material utilizado.
Não há retoques ou correções em uma peça de Shodō, pois mesmo o “borrão” ou os espaços “falhos” sobre o papel poderão ser vistos como parte de uma totalidade, desde que haja um equilíbrio natural entre os caracteres e a composição como um todo, pois é justamente na sutileza em alguns trechos e na intensidade em outros, que está localizado o sentido estético do Shodō.
O ato de “emoldurar” também é uma arte incutida de criatividade. Ou seja, além de transmitir conteúdo e forma na escrita, transmitir a alma do artista no pincel, também é possível se expressar na moldura.
Abaixo vemos o uso do acrílico. A transparência do acrílico reflete a imagem daquele que está vendo o quadro. Sua alma então é refletida no quadro, uma alma vermelha, forte, com luxúria, como é a cor dourada da tinta. O kanji significa dragão.
O Shodô em uma luminária:
Em outra parte do site, há um leque que quebrou e foi emoldurado. Parece refletir a preocupação dos japoneses de não desperdiçar nada, o もったいない。Se o leque deixou de ter utilidade, passou a ser arte, para continuar a transmitir não mais pelo leve ruflar do leque mas pela beleza do quadro o conteúdo do Shodô.
Outro ponto que me chamou a atenção foi o cuidado com os materiais e os detalhes. Os quadros são instalados na parte superior, pois as portas antigas japonesas eram de correr e feitas de papel translúcido, portanto não havia possibilidade de prender o quadro nas portas. É um reflexo do pouco espaço disponível nas casas japonesas, um esforço em aproveitar o máximo com o mínimo possível. Porém, um quadro instalado no alto ficaria difícil de ser visto, portanto os quadros são inclinados para frente, e a moldura inferior é protegida com um pequeno pedaço de pano com enchimento.
A cultura japonesa também é refletida no Shodô, através da preocupação com a concentração no momento da escrita. O vídeo mostra o artista se concentrando, e o kanji 集中 aparece ao lado.
No livro do Marugoto também há essa referência. No texto sobre uma artista de Shodô que se mudou para Melborn, na Austrália, a artista Hayashi Yuka queria transmitir aos seus alunos a alma do Shodô, o 緊張感 e o 集中.
O Shodô, portanto, transmite conteúdo e forma na escrita, transmite a alma do artista no pincel, expressa a alma do Japão através da moldura, e o conjunto é o resultado de uma nação preocupada em manter a sua tradição e suas preocupações com os detalhes, concentração. É a estética de se dizer o máximo com o mínimo, uma comunicação elegante e requintada.